sexta-feira, 11 de maio de 2007

O cavalo preto...

Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse casa dele, e é.

Trata-se de um cavalo preto e lustroso que apesar de inteiramente selvagem - pois nunca morou antes em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela - apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come às vezes na minha mão.

Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo o seu focinho.

Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa e que esta outra casa não tenha medo daquilo que é ao mesmo tempo selvagem e suave.

Clarice Lispector - Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres

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