sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Olhos

Daqueles olhos que me contam das saudades, que por não se conterem se fogem pelos cantos, escapam às beiras. São olhos de uma doçura triste mas firme que cerram em sensações e se entregam eternamente em suas íntimas releituras a fim de saciar, inútil, sua sede, seu desejo, seu orgulho, seu incêndio.

Palcos



Vou continuar, é exatamente da minha natureza nunca me sentir ridícula, eu me aventuro sempre, entro em todos os palcos


Clarice Lispector
Perto do Coração Selvagem ao som de “Clariô” Gal Costa 70’s

Portas


Minha chave, tua porta.
E um desejo sem fim de escancarar-te.

Tédio


No congelar dos tempos onde dormem as criaturas imortais, me entorpece a leve angústia da iminência.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Poder

Não podia mensurar o poder que tinha nas mãos, mas conscientizara-se da sua existência sólida e permanente. Embora não soubesse ao certo o que fazer com ele, e talvez nem o quisesse tanto, mesmo se cercada daquelas incertezas de outrora que tanto lhe pertubaram a mente nos minutos que antecederam seu sono. Mas após suas doses diárias de conhecimento e suas horas de devaneios, aprendera a ter a idéia clara da sua unicidade quando afastava-se de si mesma para amenizar suas peculiaridades. Enxergava-se peça, parte, espécie. Não havia mais o mundo para si, acabara por se misturar toda a ele, entre seus iguais dos quais poderia sentir qualquer movimento. Podia dançar com eles. Eis seu poder inerente.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Desacertos


Todo fim de tarde, me sorria leve querendo saber dos meus desacertos. Brotava tímida aquela sede de aprender a desacelerar o tempo e a andar tranquila no sentido contrário do mundo. Desacertar é um dom - pensava consigo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Onda

Não tem onda grande que meta medo assim, iaiá. E nem tempestade forte. Não tem, porque onda é espuma na areia e tempestade é esse punhado de furinhos nela. E o vento, olha lá, é essa dança bonita dos coqueiros! É, eu sei. Ficou assim bem depois que o mar entrou todo dentro dessa concha, ouve.

Nós


Aquieta sem ardil, jogos ou estratagemas. Aguarda o desatar lento de nós. Daquele jeito que a gente sabe que acontece, mas nem por isso cansa de ficar olhando. Que nem final de novela das oito. Que nem imagem da queda das torres gêmeas, todo onze de setembro.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Além

Nas fronteiras que me separam do mundo, onde não há lugar para as gentilezas etéreas, basto-me. Me preencho de todos os vazios além das absolutas incertezas que me habitam por dentro. Além do riso de agora que eu me acho e me ultrapasso e me venço de todas as barreiras de onde eu não quero e não preciso ir; além do que eu sou e do que eu não sou mais; além de mim e da minha inteireza original. É a completude infinita na coragem que é a ausência das minhas defesas. A descoberta e a invasão súbita. É a concretude. É o reencontro.